Saturday, 23 November 2019

A Big Silly Cybertruck

If you attended an American elementary school since the end of the last century, you have probably seen an icon called “Cool S.” (That is really its name.) It is basically what it sounds like: the 19th letter of the alphabet, rendered so as to be maximally appealing to the Billabong set. Its native habitats include the walls of laser-park bathrooms, the margins of math textbooks, and the forearms of 9-year-old boys. Justice Potter Stewart is remembered today for the phrase “I know it when I see it”—which happens to describe the “Cool S” well—but had he attended elementary school in Cincinnati roughly 70 years after he actually did, he would instead be remembered for writing his name “Potter S.,” with the Cool S, at the top of every assignment.

Anyway, it looks like this:

The cool S
Rachel gutman / The Atlantic

This has been a historic week for the Cool S, because it is the unacknowledged but undeniable inspiration for Tesla’s new pickup, the Cybertruck. (That is really its name.) It looks like this:

Ringo H.W. Chiu / AP

The influence of the “Cool S” is indisputable. You will notice several other unorthodox design choices: The truck is made of stainless steel, and does not have sideview mirrors. It does not have shatter-proof windows, also. Take down the mighty atlas of aesthetics from its high shelf, and you will find that a thin border separates machismo and self-parody, bravery and priapism. But you will not find the Cybertruck, because it is entirely off the map, floating half-submerged in an ocean somewhere.

The truck was announced via live-stream Thursday night, and of course Twitter immediately attacked: Here was a chonky new target for its freewheeling scorn. Katherine Miller of BuzzFeed correctly observed that it looked like a vehicle from the video game Golden Eye on N64, “back before they could really make people look like people and cars like cars.” And my colleague Ian Bogost noted that the Cybertruck “fully realizes” the design taste of Tesla’s chief executive, Elon Musk: “It is 12-year-old boy’s loose-leaf notebook sketches.”

It is a very silly truck. (It also may not be a normal-size pickup: Of all the photos released so far, few actually show the size of its bed.) But I also wonder, reading the commentary, how many people have seen other new trucks. Have you looked at new car designs lately? Half of them look like a Yeti cooler mated with a lamprey. Most car commercials now end with a shot of their “lineup,” which is to say, eight crossovers distinguished only by how much their grilles are yawning. In 2017, construction crews in London removed a fatberg—“a 130-ton mass of sanitary products and cooking fat”—from the city’s aging sewage system. A small amount of the fatberg was put on display in a museum, but the rest was secretly injected with human growth hormone and turned into the Infiniti QX80.

What I’m saying is, at least the Cybertruck looks different.

And while Musk has a habit of promising a lowest tier of prices that never actually arrive, the Cybertruck seems like it will be priced competitively: $39,000 to $69,000. That places it in the same approximate range as other pickup trucks, which are America’s best-selling and most profitable vehicle segment. While Tesla’s margins probably won’t be as padded by pickups as Ford and General Motors’ are, this is arguably the first time the company will compete with mainstream brands at a mainstream price. Pickup buyers are used to paying nearly $50,000 for a new truck; the Cybertruck (that is still really its name) is safely in that margin. It will also be competitively priced with the first electric pickup from Rivian, a new automaker that can count both Ford and Amazon as investors. Rivian’s first vehicle, the R1T, is due to beat the Cybertruck to market by a year, but its entry-level model starts at $69,000.

When it goes on sale, it will represent a sort of triumph for Musk. While Musk’s business record is somewhat mixed, his approach to decarbonizing the economy remains underrated. Instead of fretting that climate-friendly electric vehicles are not yet cost-competitive with their gasoline-burning rivals, Musk figured out that he could underwrite their higher prices through luxury margins. Hence his decision to build a Tesla sports car before anything else.

It’s true that in the sedan segment, he has not achieved his goal of a long-range electric vehicle that costs less than $35,000. But Tesla’s trucks do not need to stoop to that target. It is now likely that in the fall of 2021, America’s best-selling segment will include an electric vehicle that’s competitive on price. Congratulations, Mr. Musk. Now, please stop doodling and learn about parabolas.  

Friday, 22 November 2019

Peter Handke ganhou o prêmio Nobel após dois jurados caírem em teoria da conspiração sobre a guerra na Bósnia

Peter Handke ganhou o prêmio Nobel após dois jurados caírem em teoria da conspiração sobre a guerra na Bósnia

Esta história é sobre uma teoria da conspiração que nasceu nos anos 90, hibernou na obscuridade por duas décadas e, em 2019, parece ter enganado os jurados a conceder o Prêmio Nobel de Literatura a Peter Handke, que negou o genocídio de muçulmanos na Bósnia, pelas mãos dos sérvios.

A versão curta é que dois jurados do Nobel, respondendo às críticas globais sobre a escolha do escritor nascido na Áustria, deram um passo incomum no mês passado, divulgando as fontes que consultaram enquanto decidiam. Um dos jurados, Henrik Petersen, citou um livro de um autor pouco conhecido, Lothar Struck, que vive em Düsseldorf e contribui para uma revista literária online. Outro jurado, Eric Runesson, disse ter se baseado em um livro do historiador Kurt Gritsch, de Innsbruck. Nenhum dos livros foi traduzido do alemão para o inglês e eles têm apenas um punhado de citações na versão alemã do Google Acadêmico.

Os livros de Struck e Gritsch defendem o extremo ceticismo de Handke sobre as atrocidades sérvias e endossam o seu argumento de que as notícias da década de 90 eram injustas para os sérvios. Os livros têm um tom confiante e, aparentemente, os jurados do Nobel concluíram que Handke era justificado em sua simpatia escrita e gestual pelo lado sérvio (que incluía um tributo no funeral do líder sérvio Slobodan Milosevic, em 2006, após ele morrer de um ataque cardíaco enquanto aguardava julgamento por acusações que incluíam genocídio).

PETER HANDKE

Handke antes de seu discurso no funeral do falecido líder sérvio Slobodan Milosevic em Pozarevac, Sérvia, em 18 de março de 2006.

Foto: Petar Pavlovic/AP

Mas esses dois livros têm uma falha enorme que os jurados do Nobel aparentemente não reconheceram. Ambos apoiam uma teoria da conspiração que afirma que uma empresa de publicidade americana, a Ruder Finn Global Public Affairs, planejou uma campanha para inflar atrocidades sérvias e, assim, mudar a opinião dos EUA contra os sérvios. De acordo com a fraca teoria sobre a guerra da Bósnia que esses livros adotam, a narrativa aceita das imensas e unilaterais atrocidades por parte dos sérvios foi em grande parte consequência de uma campanha enganosa de publicidade, em vez de eventos reais. Gritsch menciona a agência Ruder Finn cerca de 20 vezes em seu livro “Peter Handke and ‘Justice for Serbia’”, dedicando um breve capítulo a ela. Struck, cujo livro é intitulado “The One With His Yugoslavia”, foi tão tomado pela ideia envolvendo a Ruder Finn que publicou um suplemento digital que consiste em – de maneira surpreendente – documentos de divulgação que a empresa apresentou ao governo dos EUA.

Como escreveu Gritsch: “Devido a vários ressentimentos e uma posição anti-sérvia e pró-muçulmana já existente entre muitos jornalistas, a tese desenvolvia que o lado sérvio (e apenas o lado sérvio) estava operando campos de extermínio no conflito iugoslavo, e depois disso, a agência de relações públicas Ruder Finn divulgou essa teoria, colocando em circulação as notícias dos campos de concentração sérvios.” Gritsch acrescentou que, depois de surgirem as primeiras fotos e vídeos dos campos sérvios, “o uso de termos emocionalmente carregados como ‘limpeza étnica’,” ‘campos de concentração’ etc., pode ser atribuído à agência de relações públicas Ruder Finn”.

Esta é uma enorme reescrita da história. Os primeiros artigos sobre os campos sérvios ganharam a atenção do público por conta própria em agosto de 1992: foi um acontecimento espetacular que não precisava de nenhum empurrão de uma empresa de publicidade. Investigações subsequentes, artigos e julgamentos por crimes de guerra provaram que os campos eram ainda piores do que os primeiros relatórios foram capazes de detalhar. E a frase “limpeza étnica” foi amplamente utilizada desde o início da guerra, em abril de 1992, quando milícias sérvias invadiram cidades da Bósnia e mataram ou expulsaram os muçulmanos de lá.

“É um completo absurdo”, disse Marshall Harris, especialista sobre a Bósnia no Departamento de Estado quando a guerra eclodiu. Harris, que renunciou ao cargo para protestar contra a falta de ação dos EUA no início do conflito, liderou uma coalizão de ativistas proeminentes na Bósnia e interagiu com a agência Ruder Finn. “Os EUA intervieram nos Bálcãs por causa de Slobodan Milosevic. O objetivo de atribuir grande sucesso em influenciar a política dos EUA nos Bálcãs a uma boa, mas pequena empresa de relações públicas, com alcance político limitado, minimiza a gravidade e o escopo do genocídio.”

A teoria é tão bizarra que é difícil encontrar estudiosos familiarizados com ela. Michael Sells, professor da Universidade de Chicago, autor do livro “The Bridge Betrayed: Religion and Genocide in Bosnia”, publicado em 1996,  notou nacionalistas sérvios mencionando Ruder Finn nos fóruns da internet durante a guerra, mas ficou surpreso ao saber, quando contatado pelo The Intercept, que a empresa estava sendo discutida agora como um fator importante ou mesmo menor no conflito. “As coisas eram tão impressionantes e claras sobre o que estava acontecendo na Bósnia, de tantas fontes diferentes, que não consigo imaginar como a Ruder Finn poderia ter influenciado de qualquer maneira”, disse ele.

A teoria da conspiração sobre a Ruder Finn circula nas entranhas da internet por quase tanto tempo quanto a web existe. Embora um pequeno número de livros e artigos em defesa dos sérvios a destaque, basicamente não há trabalhos respeitáveis que deem crédito à teoria. A proposição de que era injusto definir os sérvios como os principais culpados na Bósnia – e que uma empresa de relações públicas relativamente pequena criou esse mito e fez com que todos acreditassem nele – é totalmente louca. Até Jacques Merlino, o jornalista francês cuja entrevista em 1993 com um executivo da Ruder Finn deu origem à teoria, parece surpreso com o quão longe ela foi. “Eu sei que eles fizeram o trabalho deles, mas não sei se foi particularmente eficaz”, ele escreveu em e-mail ao Intercept.

Ainda assim, dois jurados do Prêmio Nobel de Literatura dizem ter se baseado em livros que vendiam essa teoria da conspiração a serviço da absolvição de Handke.

 

A melhor maneira de contar essa história bizarra é voltando à sua origem, em 24 de abril de 1993. Foi nesta data que Merlino chegou ao escritório de James Harff, executivo da Ruder Finn em Washington, DC.

Harff trabalhou em nome do governo sitiado da Bósnia, que na época tentava impedir a derrota das forças sérvias que haviam atacado o país em 1992 e confiscado 70% de seu território, assassinando ou expulsando muçulmanos em seu caminho. O trabalho de Harff era conversar com jornalistas e políticos sobre a guerra, que em 1993 alcançou um impasse quando as milícias sérvias cercaram a capital de Sarajevo e outras cidades, incluindo Srebrenica.

Conforme Harff lembra, a entrevista não durou muito e não foi gravada. Mas, no final de 1993, Merlino publicou um livro na França, “The Truths From Yugoslavia Are Not All Easy to Tell”, que continha um capítulo sobre a Ruder Finn. O livro mencionava Harff se vangloriando do fato de que sua empresa de relações públicas havia “enganado” três grandes organizações judaicas para apoiar o governo da Bósnia, virando a maré da opinião pública. Segundo o livro de Merlino, Harff disse que a Ruder Finn havia divulgado relatos de campos de concentração sérvios, apesar de os relatórios não terem sido confirmados. “Nosso trabalho não é verificar informações”, afirmou Harff. “Nosso trabalho, como já disse, é acelerar a circulação de informações favoráveis ao nosso lado. (…) Nós não somos pagos para sermos morais.” Os comentários de Harff pareciam ser evidências de que os sérvios haviam sido enquadrados – injustamente e sem evidências – por cometer genocídio na Bósnia.

O livro de Merlino encontrou audiência imediata entre os sérvios e seus apoiadores que estavam tentando impedir a intervenção militar dos EUA no conflito. Finalmente, havia uma prova do que eles estavam tentando dizer ao mundo – que as notícias sobre sérvios matando muçulmanos em uma onda de atrocidades unilaterais não se baseava na realidade, mas em uma campanha manipulativa de uma empresa de relações públicas que agora admitia seu papel. Trechos do capítulo de Merlino sobre Harff foram publicados na mídia pró-sérvia e chegaram a resultar em um punhado de artigos de opinião nas principais publicações americanas e europeias.

As teorias da conspiração geralmente têm elementos da verdade sobre os quais lançam suas grandes mentiras. O que era verdade no livro de Merlino, e no que foi atribuído a Harff, é que os primeiros relatos de campos de concentração sérvios, em dois relatórios em julho e agosto de 1992 por Roy Gutman, do Newsday, não foram confirmados. Gutman conversou com trabalhadores humanitários e dois sobreviventes dos campos, mas não os havia visitado e não tinha muitos testemunhos em primeira mão. Portanto, a Ruder Finn de fato divulgou relatórios não confirmados.

Mas a teoria da conspiração de Merlino ignora um fato crucial: dias e semanas após os artigos de Gutman, as subsequentes reportagens de outros jornalistas confirmaram seu trabalho, assim como os julgamentos por crimes de guerra que ocorreram anos depois. Gutman ganhou um prêmio Pulitzer por seus artigos no ano seguinte.

Praticamente todos os principais jornais, revistas e emissoras dos Estados Unidos ficaram cheios de reportagens a partir do início de agosto daquele ano. Eles foram exagerados? Como repórter do Washington Post, fui para Banja Luka e visitei dois campos: Omarska e Trnopolje. Eles haviam sido limpados – Trnopolje tinha até uma faixa em inglês na entrada que dizia “Centro de Recepção Aberto de Trnopolje” -, mas continuavam horríveis. Aqui está o que escrevi pouco tempo depois:

“Nunca pensei que um dia falaria com um esqueleto. Foi o que fiz em Trnopolje. Lembro-me de pensar que eles andavam surpreendentemente bem para pessoas sem músculo ou carne… Um prisioneiro esquelético teve tempo suficiente para desabotoar a camisa, exibindo o peito mutilado com algumas dezenas de cicatrizes frescas de sabe-se lá que tortura, antes que um olhar de horror lhe estampasse o rosto. Ele olhava, como um cervo preso nos faróis de um carro, para um ponto logo acima do topo da minha cabeça. Olhei em torno. Um guarda estava atrás de mim.

Um jovem de 18 anos veio até nós. Acabara de chegar a Trnopolje depois de dois meses em Omarska, o pior campo de todos. Sua pele estava esticada como um lenço transparente sobre as costelas e os ombros. “Foi horrível”, ele sussurrou. “Apenas olhe para mim. Para os espancamentos, os guardas usavam mãos, barras, chicotes, cintos, correntes, qualquer coisa. Uma pessoa normal não pode imaginar os métodos que eles usaram. Lamento dizer que foi bom quando novos prisioneiros chegaram. Os guardas batiam neles ao invés de nós.”

Vista externa do campo de detenção de Trnopolje, perto de Banja Luka, na Bósnia-Herzegovina, em 9 de agosto de 1992.

Vista externa do campo de detenção de Trnopolje, perto de Banja Luka, na Bósnia-Herzegovina, em 9 de agosto de 1992.

Foto: Srdjan Sulja/AP

E Trnopolje era o melhor campo. Foi para onde homens e mulheres liberados de Omarska foram enviados e foi para onde alguns refugiados foram voluntariamente porque ficar em suas casas era ainda mais perigoso, devido às milícias sérvias matando e saqueando tudo em seu caminho pela região. Omarska era pura maldade, mesmo em condições melhoradas, e essa não era uma ficção sonhada por James Harff em Washington, DC. Levado a um refeitório onde os prisioneiros haviam entrado, o clima de medo era avassalador quando tentei falar com eles.

“Eles inclinaram a cabeça para baixo, o nariz praticamente dentro das tigelas”, escrevi na época. “Era um lugar onde palavras, quaisquer palavras, podiam matá-los. ‘Por favor, não me faça perguntas’, implorou um deles em um sussurro. Um prisioneiro nos enviou um bilhete. ‘Cerca de 500 pessoas foram mortas aqui com paus, martelos e facas’, afirmou. ‘Até 6 de agosto, havia 2500 pessoas. Estávamos dormindo no chão de concreto, comendo apenas uma vez por dia, às pressas, e éramos espancados enquanto comíamos. Nós estamos aqui há 75 dias. Por favor, nos ajude.’”

Era tão ruim assim? Em 1997, os dois comandantes sérvios responsáveis por esses campos foram indiciados pelo Tribunal Penal Internacional da antiga Iugoslávia. Um deles, Simo Drljaca, foi morto quando as tropas da OTAN tentaram prendê-lo. Drljaca havia levado eu e os outros jornalistas para Omarska e Trnopolje. O outro comandante, Milan Kovacevic, com quem havíamos discutido para obter permissão para visitar os campos infernais, foi levado para Haia, mas morreu de causas naturais durante seu julgamento por genocídio e crimes contra a humanidade.

Quando o livro de Merlino foi lançado, a Ruder Finn fez o possível para corrigir suas falácias e erros, me disse Harff em entrevista por telefone no mês passado. Mensagens por fax foram enviadas a Merlino – uma delas, que Harff me enviou por e-mail, tinha a linha de assunto “Citações erradas, imprecisões, cinismo” – e cartas legais foram enviadas aos meios de comunicação que citavam o livro de Merlino. Nada foi corrigido ou retratado (Merlino me disse que não recebeu nenhum fax da Ruder Finn), mas à medida que a guerra prosseguiu, o livro de Merlino não parecia importar tanto porque as evidências de atrocidades sérvias se tornaram esmagadoramente reais.

No verão de 1995, o ataque culminou com um massacre de mais de 7 mil homens e meninos muçulmanos em Srebrenica – um novo ato de genocídio que finalmente desencadeou a intervenção militar contra os sérvios pelos EUA e seus aliados da OTAN. Mais tarde, o tribunal de crimes de guerra em Haia indiciou importantes políticos sérvios – não apenas Slobodan Milosevic, mas também o líder sérvio bósnio Radovan Karadzic e seu comandante militar, Ratko Mladic. A morte de Milosevic poupou-lhe um veredicto, mas Karadzic e Mladic foram considerados culpados de genocídio e sentenciados à prisão perpétua. A evidência era irrefutável.

Ainda assim, o livro de Merlino teve uma sobrevida surpreendente. Um quarto de século depois, ele ajudou a entregar o Prêmio Nobel a Peter Handke.

Parentes bósnios das vítimas de Srebrenica se reúnem para protestar contra o vencedor do Nobel de Literatura de 2019 Peter Handke em frente à Embaixada da Suécia em Sarajevo, na Bósnia, em 5 de novembro de 2019.

Parentes bósnios das vítimas de Srebrenica se reúnem para protestar contra o vencedor do Nobel de Literatura de 2019 Peter Handke em frente à Embaixada da Suécia em Sarajevo, na Bósnia, em 5 de novembro de 2019.

Foto: Samir Yordamovic/Anadolu Agency via Getty Images

A teoria da conspiração sobre a Ruder Finn é tenaz nas páginas iniciais do extremismo à esquerda e à direita, mas permanece obscura em outros lugares. Apesar de ter coberto a guerra e ter escrito um livro sobre isso, eu não tinha ouvido falar da Ruder Finn até entrar em contato com Kurt Gritsch no mês passado.

Entrei em contato com ele porque Eric Runesson, o jurado do Nobel, mencionara o livro de Gritsch como o que parecia ser sua principal fonte para decidir, antes de conceder o Nobel a Handke, que as críticas a ele estavam erradas. “Kurt Gritsch, a meu ver, chega à conclusão de que as críticas não são inteiramente factuais”, disse Runesson ao jornal sueco Dagens Nyheter no mês passado. Enviei um e-mail a Gritsch para perguntar se ele poderia ter uma tradução não oficial de seu livro para o inglês porque não sei ler alemão. Gritsch disse que não havia tradução, mas ele forneceu uma explicação de quase 2 mil palavras de sua pesquisa. Ele escreveu que “Belgrado e os sérvios da Bósnia desempenharam um papel importante – e provavelmente o mais importante – em muitos aspectos do conflito”, mas também citou a milícia croata da Bósnia e o que descreveu como “a milícia bósnia-muçulmana” –que é uma maneira provocativa de se referir ao Exército da Bósnia, a única força militar no país que possuía uma posição legal.

Ele defendeu Handke juntando vários temas desmentidos que giravam em torno da Ruder Finn. Um deles envolvia uma declaração controversa emitida pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha em 1992, em resposta aos artigos de Gutman sobre os campos sérvios. O CICV, tentando permanecer um árbitro neutro, sugeriu falsamente que todos os combatentes tivessem campos de prisioneiros de igual brutalidade. A declaração foi refutada pelo fluxo de notícias subsequentes, investigações e julgamentos de crimes de guerra, mas os teóricos da conspiração citam isso como prova de que os abusos nos campos de prisioneiros na Bósnia eram aproximadamente equivalentes em todos os lados. Os conspiradores escolhem um dado prestes a ser desacreditado e ignoram tudo que o desacreditou posteriormente.

A seguir, o que Gritsch escreveu em seu e-mail, com a gramática corrigida conforme solicitado por ele (“Você pode citar isso, mas … por favor, corrija a gramática, vocabulário e ortografia quando necessário”):

“A razão para tudo isso pode ser encontrada em uma campanha de relações públicas de 1992. Em agosto de 1992, a Ruder Finn Global Public Affairs estava trabalhando para os governos croata e bósnio-muçulmano. Eles publicaram que campos haviam sido encontrados na Bósnia e que sérvios os administravam. Os fatos foram, como o CICV (a Cruz Vermelha) deu provas no mesmo mês, de que todas as três partes do conflito na Bósnia – croatas, muçulmanos e sérvios – estavam administrando campos de prisioneiros. O CICV foi muito claro sobre isso e ficou muito preocupado com as terríveis condições desses campos, onde violações de direitos humanos aconteciam todos os dias, até estupros e assassinatos. O CICV confirmou que havia muitos campos administrados pela Sérvia, mas … explicou que isso estava dentro da proporção das partes no conflito – a milícia sérvia era o maior grupo da época e administrava a maioria dos campos. No entanto, os outros dois grupos também tinham seus campos de detenção.

Mas ignorar isso não foi a única coisa que a Ruder Finn Global Public Affairs fez. Eles tornaram tudo ainda maior ao declarar que campos de detenção eram campos de extermínio e ao comparar os muçulmanos bósnios aos judeus. Isso foi possível com a ajuda de três grandes organizações judaicas americanas que apoiaram publicamente os muçulmanos da Bósnia (ignorando o fato de que seu líder, Alija Izetbegovic, tinha suas próprias ideias de um Estado islâmico, publicadas em livro muitos anos antes). O próximo passo foi combinar os autores, e lá estava: se os muçulmanos da Bósnia eram os judeus do nosso tempo, os sérvios tinham que ser os nazistas.”

Assim como ele faz em seu livro, Gritsch repetiu outra teoria desacreditada que vem de um artigo de 1997, há muito desmentido, de um jornalista freelancer alemão, Thomas Deichmann. Entre os teóricos da conspiração, o trabalho de Deichmann é frequentemente citado ao lado de Merlino; são partes fundamentais do cânone extremista que tenta reescrever o que aconteceu na Bósnia. E, no que pode ser uma das reviravoltas mais reveladoras e menos notáveis de toda a controvérsia de Handke, Deichmann foi um dos companheiros de viagem mais próximos de Handke nos Bálcãs – eles fizeram pelo menos quatro visitas à Sérvia e Bósnia nas décadas de 1990 e 2000. Embora suas viagens conjuntas sejam pouco conhecidas, não são um segredo; elas foram mencionadas em vários livros e sites.

Deichmann apareceu pela primeira vez em público quando atuou como testemunha de defesa no julgamento de 1996 de um sérvio chamado Dusko Tadic, acusado de cometer crimes de guerra em Omarska e em outros lugares. Deichmann, testemunhando como especialista em mídia, disse que os muçulmanos da Bósnia que identificaram Tadic no tribunal poderiam tê-lo conhecido apenas por meio de fotos ou reportagens de TV sobre ele. Deichmann estava sugerindo que a identificação de Tadic era uma mentira ou um caso de identidade equivocada. Não foi um argumento persuasivo: Tadic foi condenado por crimes contra a humanidade e sentenciado a 20 anos de prisão.

Em um ano, Deichmann estava de volta aos holofotes, escrevendo um longo artigo intitulado “A imagem que enganou o mundo”. Seu artigo foi publicado por uma revista de extrema esquerda chamada LM, que anteriormente se chamava Living Marxism, e lançada uma década antes pelo Partido Comunista Revolucionário da Grã-Bretanha. Deichmann escreveu que uma equipe de televisão britânica da ITN, a primeira a visitar Trnopolje, tinha feito de propósito uma cena em que os detidos estavam atrás de uma cerca coberta de arame farpado, para exagerar as condições ali. O artigo de Deichmann se transformou em um complemento perfeito para o livro de Merlino publicado alguns anos antes – não era apenas uma empresa de publicidade dos EUA que tentava difamar os sérvios, mas os jornalistas no campo também estavam criando ficções.

Os jornalistas que foram acusados por Deichmann o processaram por difamação em um tribunal de Londres e ganharam danos de 375 mil libras. Isso tirou a LM de circulação – mas não o artigo de Deichmann. Como a teoria de Merlino, ele foi mantido vivo por livros e publicações revisionistas no Stormfront e outros sites da extrema direita e esquerda. Como observou o historiador da fotografia David Campbell em um estudo minucioso, o artigo de Deichmann era “parte de um argumento geral que tenta revisar o entendimento da guerra da Bósnia, negando a natureza, extensão e objetivo da violência na estratégia de limpeza étnica dos sérvios da Bósnia.” Campbell acrescentou: “O que importa para a LM e outros é a maneira como essa disputa permite cortar o elo potencial entre a Bósnia e o Holocausto, diminuir o significado da guerra na Bósnia e negar a responsabilidade daqueles que perpetraram as campanhas de limpeza étnica.”

Gritsch trata o artigo de Deichmann como fato em seu livro e no e-mail que me enviou. “Quando mais tarde Penny Marshall e a ITN filmaram um campo de refugiados em Trnopolje e colocaram a equipe de filmagem atrás do arame farpado, a fim de parecer que as pessoas estavam presas, o mundo inteiro a interpretou como evidência de ‘novos campos nazistas’ na Europa”, escreveu Gritsch. “A imagem, como você certamente sabe, foi analisada mais tarde (em 1996/97) e o jornalista alemão Thomas Deichmann descobriu que era uma construção (‘A imagem que enganou o mundo’).” O livro de Gritsch tem pelo menos 30 referências a Deichmann, incluindo passagens sobre o trabalho de Deichmann que variam em tom, entre neutro e favorável.  Em uma reviravolta interessante, a foto de capa do livro de Gritsch, que mostra Handke olhando um corpo de água ao longo da costa montenegrina, foi tirada por Deichmann.

Fiquei surpreso ao ouvir essas ideias desacreditadas vindas do autor de um livro que aparentemente era um fator crucial nas deliberações do júri do Prêmio Nobel. Mas o e-mail de Gritsch era consistente não apenas com seu livro, mas com artigos que ele escreveu, incluindo um de alguns meses atrás na revista online Telepolis, onde descreveu os esforços da Ruder Finn como “determinantes do discurso” –  referindo-se especificamente, em nota de rodapé, ao trabalho de Merlino. Como Gritsch escreveu em seu livro de 2009 sobre Handke, “o relatório de Jacques Merlino sobre o trabalho da agência de relações públicas norte-americana Ruder Finn coloca com urgência a questão de saber em que medida a representação oficial da perspectiva croata ou muçulmana pode ser acreditada.”

Quando entrei em contato com Gritsch para comentar essa história, ele respondeu educadamente em outro e-mail com cerca de 2 mil palavras que traziam novamente as linhas gerais de seu livro. Sua resposta incluiu estas falas: “A ciência e a busca da verdade não é algo fácil. … Não pretendo saber a verdade sobre as guerras iugoslavas ou o debate sobre Peter Handke, mas qualquer pessoa disposta a mergulhar nos debates e discursos pode identificar a narrativa principal e a contra-narrativa. E isso já pode ajudar a entender um pouco melhor todo o debate.”

Membros do Comitê Nobel de Literatura, da esquerda, Presidente Anders Olsson, Per Wästberg, Rebecka Karde, Mikaela Blomqvist e Henrik Petersen anunciam os vencedores do Prêmio Nobel de Literatura de 2018 e 2019 na Academia Sueca de Estocolmo, na Suécia, em 10 de outubro de 2019.

Membros do Comitê Nobel de Literatura, da esquerda, Presidente Anders Olsson, Per Wästberg, Rebecka Karde, Mikaela Blomqvist e Henrik Petersen anunciam os vencedores do Prêmio Nobel de Literatura de 2018 e 2019 na Academia Sueca de Estocolmo, na Suécia, em 10 de outubro de 2019.

Foto: Karin Wesslen/TT News Agency/AFP via Getty Images

Pelo testamento de Alfred Nobel, a Academia Sueca é encarregada de selecionar o vencedor do Prêmio Nobel de Literatura. O processo de duas etapas foi alterado este ano devido a um escândalo de abuso sexual em 2017 que minou a confiança nas habilidades da academia. Este ano, cinco especialistas externos se juntaram ao subcomitê de quatro membros da academia que escolhe uma lista de finalistas. A decisão final é tomada pelo grupo de 18 membros. Este ano, o subcomitê nomeou apenas uma pessoa para o prêmio de 2019 – Peter Handke – e a academia completa o aceitou.

Eric Runesson, que disse confiar na absolvição de Handke elaborada por Gritsch, é membro da academia. Henrik Petersen, um crítico literário, foi um dos especialistas externos do subcomitê. Em artigo de 17 de outubro, Petersen defendeu a seleção de Handke dizendo que “um programa político não é propagado” em seu trabalho, embora ele reconhecesse que “a maneira na qual Handke articulava sua crítica era precária, desajeitada e às vezes levava a comparações absolutamente absurdas.” Aparentemente, a falta de jeito era um fator pouco importante para Petersen e outros jurados.

Petersen escreveu que, em 50 anos, Handke seria considerado “um dos laureados mais óbvios já premiados pela Academia Sueca” e sugeriu que “se você gostaria de saber mais sobre o que Handke realmente disse sobre a Iugoslávia, recomendo os comentários de Lothar Struck em ‘The One With His Yugoslavia’.”

O livro de Struck parece ter recebido relativamente pouca atenção nos círculos literários desde que foi publicado há cerca de sete anos. Seu livro é mais cuidadoso que o de Gritsch e não se aprofunda tanto em outras teorias da conspiração. Struck tem algumas menções passageiras a Thomas Deichmann e sua história desacreditada sobre o campo de Trnopolje, mas ele não se aprofunda da mesma maneira que Gritsch o faz. No entanto, o livro de Struck abraça a teoria geral de que os sérvios foram injustamente transformados no principal culpado da guerra na Bósnia por uma campanha publicitária manipuladora, e não por suas próprias ações.

“A opinião sobre as facções em guerra foi parcialmente determinada, desde o início, por agências profissionais de relações públicas”, escreveu Struck. Como evidência, ele apontou para o que descreveu como a entrevista “quase lendária” que Merlino, o jornalista francês, havia realizado em 1993 com James Harff, da Ruder Finn. Esta é, obviamente, a mesma entrevista e a mesma teoria da conspiração sobre a qual Gritsch escreveu extensivamente. Struck continua citando uma passagem da entrevista de Harff que Merlino publicou. “Para os padrões da indústria, a campanha de Harff foi certamente uma excelente manobra”, escreveu Struck. “Acima de tudo, era sustentável, já que a partir de então os sérvios não eram simplesmente os agressores, mas poderiam ser classificados como assassinos genocidas.”

O livro de Struck tinha um longo suplemento digital, com quase 600 páginas, que ele descreveu como seu “volume de material de origem”. Cerca de um terço dele consiste em documentos de divulgação que a Ruder Finn apresentou ao governo dos EUA nos anos 90, listando seus contatos com jornalistas e políticos, entre outras coisas. O interesse de Struck pela influência da Ruder Finn não desapareceu desde que seu livro foi publicado. Depois que o Prêmio Nobel foi anunciado, Struck postou uma longa defesa de Handke na revista literária em que ele contribui, Glanz & Elend (“Esplendor & Miséria”). Argumentando que Handke foi manchado por uma campanha enganosa de publicidade contra os sérvios e seus apoiadores, ele escreveu que a Ruder Finn e outras empresas que representavam croatas e kosovares desde a década de 1990 “têm trabalhado com o público dos EUA e fizeram um bom trabalho, seu veneno ainda está lá, está sendo pego por comentaristas e injetado no mundo sem verificação.”

Aqui está o que mais me choca nesse desastre no Prêmio Nobel. Não é que os jurados do Nobel tenham se apaixonado por teorias da conspiração. Isso já é terrível o suficiente, é claro. O pior é que a elevação de Peter Handke também levantou dos quase mortos uma reescrita desacreditada da história e do genocídio. Estamos voltando no tempo.

The post Peter Handke ganhou o prêmio Nobel após dois jurados caírem em teoria da conspiração sobre a guerra na Bósnia appeared first on The Intercept.

Thursday, 21 November 2019

Photos of the Week: Illuminated Boars, Lucid Dancing, Presidential Notes

Supercross in New Zealand, the Latin Grammy Awards in Las Vegas, a wee Canucks fan in Vancouver, Pope Francis in Thailand, protests in Bolivia and Chile, a new skyscraper in Beijing, the 30th anniversary of the Velvet Revolution, a massive dam in Turkey, a cat show in Italy, a cavalry pyramid in Mexico, and much more.

Wednesday, 20 November 2019

A Warning to the Democratic Party About Black Voters

The Democratic Party knows it needs the energetic support of black voters to win the 2020 presidential election. Near the end of last night’s debate in Atlanta, the question that arose—indirectly but unmistakably—was whether it needs a black candidate to turn them out.

The candidate who has surged into the lead in recent polls of Iowa and New Hampshire, Mayor Pete Buttigieg of South Bend, Indiana, has registered virtually zero support among African American voters. The candidates he overtook, Senators Elizabeth Warren of Massachusetts and Bernie Sanders of Vermont, don’t have a whole lot more. And the candidate who does have the most support among black Democrats, former Vice President Joe Biden, has a decades-long record on criminal-justice policies and school busing that is out of step with the views of many black voters, especially younger ones.

So it was left to the two black candidates onstage last night, Senators Cory Booker of New Jersey and Kamala Harris of California, to warn their fellow candidates—and voters watching at home—that they take black voters, and especially black women, for granted at their peril. The issue came up initially when Harris was asked about her criticism of Buttigieg’s campaign after it published a stock photo of two black people who were from Kenya, not the United States. Harris declined to re-litigate that mini controversy, instead using the moment to bring up the Democratic Party’s historic neglect of black women. “The larger issue,” she said, “is that for too long I think candidates have taken for granted constituencies that have been the backbone of the Democratic Party. And have overlooked those constituencies. And they show up when it’s, you know, close to election time and show up in a black church and want to get the vote, but just haven’t been there before.

“We’ve got to recreate the Obama coalition to win,” Harris continued, “and that means women, that’s people of color, that’s our LGBTQ community, that’s working people, that’s our labor unions. But that is how we are going to win this election and I intend to win.”

Read: [The Democratic Party apologizes to black voters]

Buttigieg noted that he leads a diverse city and that while he has never experienced discrimination based on the color of his skin, he’s had, as a gay man, “the experience of sometimes feeling like a stranger in my own country.” Harris did not back down, however, from her larger implied argument against Buttigieg—that Democrats need, as they had in Barack Obama, “a leader who had worked in many communities, knows those communities, and has the ability to bring people together.”

When Booker next got a chance to speak, he jumped back to that discussion, drawing laughs when he noted that he had been excluded the first time around. “I have a lifetime of experience with black voters. I’ve been one since I was 18,” he said. “Nobody on this stage should need a focus group to hear from African-American voters.

“Black voters are pissed off, and they’re worried,” he continued. “They’re pissed off because the only time [their issues are paid attention to] by politicians is when people are looking for their vote. … We don’t want to see people miss this opportunity and lose because we are nominating someone that isn’t trusted, doesn’t have authentic connection. And so that’s what’s on the ballot.”

Booker then pivoted to an attack on Biden, who this week reiterated his opposition to legalizing marijuana and seemed to be summoning the drug wars of the 1980s and ’90s when he called it “a gateway drug.”

“I thought you might have been high when you said it,” Booker said, again to laughs. “Marijuana in our country is already legal for privileged people. The war on drugs has been a war on black and brown people.”

Biden protested that he supports decriminalizing marijuana and would release those currently serving time in federal prisons on low-level charges. But then he stumbled, claiming that “I come out of the black community in terms of my support” and asserting that he has an endorsement from “the only African American woman that’d ever been elected to the United States Senate.”

“No ... the other one is here,” Harris interjected, as Biden tried to clarify that he meant the first black woman, Carol Moseley Braun of Illinois.

Harris and Booker couldn’t have made their point better if they tried. Biden’s claim to black support—while backed up in polls at the moment—seemed to come out of an earlier era, when the “first black president” was not Barack Obama but Bill Clinton, and when white politicians relied on endorsements over authentic experience to prove their connection to the black community.

It was in Atlanta, 16 months ago, that the chairman of the Democratic National Committee, Tom Perez, issued something of a formal apology to black voters for the party taking them for granted over the years. A few months after that, Stacey Abrams fell just short in her bid to become the first black woman governor of an American state. Both Booker and Harris might fall short in their own candidacies for president, but they delivered a message last night that as they seek to energize black voters, Democrats still have more work to do.

Tuesday, 19 November 2019

The GOP’s Witnesses Aren’t Helping Trump

At the start of the second session of today’s doubleheader impeachment hearings, Chairman Adam Schiff noted an important distinction about the two witnesses appearing before the House Intelligence Committee: Both Kurt Volker, the former special envoy to Ukraine, and Timothy Morrison, a senior director on the National Security Council, were “requested by the minority.”

In other words, the Republicans on the committee wanted them there. And, presumably, they wanted Volker and Morrison because they thought their testimony would help President Donald Trump and hurt the case for his impeachment.

That’s not exactly what happened.

In his opening statement, Volker made a point of defending the potential political opponent Trump wanted Ukraine to investigate, former Vice President Joe Biden, calling him “an honorable man” whom he holds in “the highest regard.” Volker referred to allegations about Biden’s involvement with Ukraine during the waning months of the Obama administration as “conspiracy theories” and said the suggestion that Biden had acted corruptly was “not credible.” Volker insisted that he did not make a connection at the time between Biden and Trump’s desire for Ukraine to investigate both possible interference in the 2016 election and the energy company Burisma, on whose board Biden’s son once sat. But Volker testified that he now understood that the president’s demands of Ukraine went beyond a generalized crackdown on corruption—that he wanted a probe of the Bidens, something Volker said this afternoon was “unacceptable.”

“In retrospect, I should have seen that connection differently, and had I done so, I would have raised my own objections,” Volker said.

As for Morrison, Republicans had interpreted his private deposition to lawmakers on October 31 as favorable. In this morning’s hearing, GOP lawmakers used Morrison’s words to try to undermine Lieutenant Colonel Alexander Vindman’s credibility, pointing out that Morrison had raised concerns about his judgment. Morrison stood by that critique in the afternoon, but he would not elaborate, and his portrait of his NSC colleague fell far short of the “deep state,” anti-Trump partisan the president’s loyalists had painted.

[Read: Trump's committee to protect the president]

Moreover, on the questions central to impeachment, Morrison did little to help the president’s case. He acknowledged that both he and Vindman were disappointed with the message that Trump delivered to Ukrainian President Volodymyr Zelensky in their July 25 call—the one in which Trump asked Zelensky for the “favor” of an investigation into Biden. Both men, Morrison said, had hoped Trump would deliver a stronger message of support for Ukraine. And when asked by Democrats whether it was inappropriate for the president to ask a foreign government to investigate a domestic political opponent, Morrison replied: “It’s not what we recommended the president discuss.”

In the first two hours of testimony, the best Republicans could get from Volker and Morrison was a firm “no” when they were asked whether anyone at the White House had ever asked them to extort or bribe anyone. Indeed, the clearest defense of Trump’s actions today did not come from testimony on Capitol Hill at all, but from an unsolicited statement issued by Vice President Mike Pence’s national-security adviser, Lieutenant General Keith Kellogg. He is the direct supervisor of Jennifer Williams, a Pence adviser who testified alongside Vindman in the morning. Kellogg said he was also on the July 25 call, but unlike Williams, he did not find anything amiss. “I heard nothing wrong or improper on the call. I had and have no concerns,” Kellogg said in his statement.

Perhaps that’s what Republicans were hoping to hear from Volker and Morrison, their chosen witnesses. What the two witnesses presented to lawmakers, however, was consistent with the testimony that’s been delivered in the House for the past week—that Trump’s demand for an investigation of Biden was at best unusual and inappropriate, and perhaps much worse. In fairness to GOP lawmakers, the witnesses they most want to haul before the House, Biden’s son Hunter and the original whistle-blower, have been rejected out of hand by Democrats. So they had to settle for Volker, Morrison, and David Hale, an undersecretary of state who will testify tomorrow.

When it was his turn to question Volker and Morrison, Republican Representative Devin Nunes of California began with a wry lament. “I have some bad news for you,” he said. “The TV ratings are way down.” It was another way of saying the day’s testimony was a dud, but it was really an admission cloaked as a joke—and the joke was on Republicans: If Volker and Morrison had actually helped the president’s case, Nunes and his colleagues would have wanted millions more people to have heard what they had to say.

Monday, 18 November 2019

Fake news a R$ 25 mil por mês: como o Google treinou e enriqueceu blogueiros antipetistas

Fake news a R$ 25 mil por mês: como o Google treinou e enriqueceu blogueiros antipetistas

Um grupo de seis blogueiros políticos se reuniu na sede do Google Brasil no Itaim Bibi, bairro nobre de São Paulo, em julho de 2016. Convidados pela empresa, a maioria saiu de Minas Gerais para receber orientações sobre como aumentar seus ganhos com o AdSense, o programa do Google de ‘aluguel’ de publicidade em sites. No encontro, um funcionário da empresa teria aberto uma planilha com um case de sucesso para inspirá-los: o site de direita O Antagonista, que receberia milhares de dólares por dia com anúncios.

Em seguida, os blogueiros receberam dicas de otimização e sugestões de temas que renderiam mais dinheiro no AdSense. Embora o Google não tenha sido explícito a esse respeito, o grupo saiu de lá certo de que uma agenda contra o PT e a presidente da República, Dilma Rousseff, era o caminho para ganhar muito dinheiro. Funcionou. Em agosto de 2016, mês seguinte ao encontro, derradeiro para o impeachment, o faturamento de um dos blogs passou de R$ 25 mil.

O encontro foi narrado ao Intercept por um ex-blogueiro que fazia parte do grupo. Ele conta que tinha um blog político bastante ativo – 20 posts por dia, em média – e, em busca de cliques, pesava a mão no sensacionalismo e nas notícias falsas, especialmente se fossem contra o PT.

Os blogs do grupo surgiram no levante antipetista e surfaram a onda do impeachment, e depois ajudaram a engrossar o coro lava-jatista e bolsonarista. Hoje, alguns não escondem seu apreço por autoritarismo e intervenção militar, tudo regado a boas doses de sensacionalismo e meias-verdades – ou a mentiras inteiras. Entre os exemplos citados pelo ex-blogueiro, estão os sites Diário do Brasil, Jornal do País, Notícias Brasil Online e Pensa Brasil, ainda no ar, e Brasil Verde Amarelo e The News Brazil, hoje desativados.

O Diário do Brasil e o Jornal do País, que seguem no ar com uma agenda fortemente bolsonarista, ainda veiculam anúncios pelo AdSense. São exibidos ao lado de notícias como “General do Exército cogita ‘intervenção cirúrgica’ no país” e “Uma rede de televisão não pode citar o nome do presidente em um caso de morte e não ser punida”. Informações mentirosas, de tom alarmista, conspiracionista ou, no mínimo, bastante questionáveis.

Dos blogs identificados pela nossa fonte, quatro viraram canais de direita no YouTube. O Top Tube Famosos (do mesmo dono do The News Brazil) é o mais bem sucedido deles. Com 851 mil assinantes e vídeos como “Moro muda tudo, tranca Lula de vez na cadeia e enlouquece Gleisi”, ele acumula mais de 150 milhões de visualizações – e fatura, no mínimo, R$ 6 mil por mês com anúncios, segundo calcula o SocialBlade. Ele está entre os canais que mais cresceram no YouTube no ranking Em Alta, que divulga o conteúdo que está bombando no momento, no período eleitoral. O algoritmo recomenda os vídeos campeões de audiência e dá a eles um lugar privilegiado no site, ajudando-os aumentar ainda mais o número de espectadores. O Google deu a ferramenta para que eles lucrassem com anúncios, depois os ajudou a aumentar a audiência. Nada mau.

Como os blogueiros aprenderam a ganhar dinheiro

O ex-blogueiro ouvido pelo Intercept contou que, entre 2014 e 2016, foi convidado a participar de reuniões de um grupo de blogs de direita. Eles trocavam dicas sobre assuntos que estavam bombando, compartilhavam conteúdos uns dos outros e frequentavam os mesmos eventos. Só no Google, segundo ele, foram quatro encontros. Em março de 2016, afirma, começou a trabalhar para um dos sites. “Os assuntos mais comentados [na internet] eram apresentados para nós”, diz.

Cada blogueiro tinha total liberdade para produzir conteúdos quando quisesse, sem rotinas pré-estabelecidas. Eles não combinavam previamente sobre quais temas escreveriam, mas aprenderam rápido que tipo de conteúdo bombava. Na semana seguinte a um dos encontros no Google, a manchete em um dos sites era “Dilma Rousseff foi pega comandando pessoalmente esquema de propina de R$ 48 milhões”, uma notícia claramente falsa – afinal, tal flagrante não existiu.

Os blogueiros também aprenderam como usar as ferramentas do Google para aumentar a audiência, a relevância e, assim, os lucros. Para isso, contaram com o auxílio técnico da empresa. Em novembro de 2016, Denis Rodrigues, na época estrategista de contas e parcerias globais do Google, enviou ao ex-blogueiro um e-mail com dicas técnicas para implementar os anúncios do AdSense em celulares. De novo, o exemplo usado foi O Antagonista. Não é por acaso: para vender a tecnologia, o Google procura exemplos que tenham afinidade com o cliente. E a empresa sabia com quem estava falando.

E-mail de Denis Rodrigues com dicas para otimizar os anúncios e aproveitar a alta do comércio gerada pela Black Friday.

O ex-blogueiro diz que, ao vir para São Paulo, era Rodrigues quem os recebia na sede do Google. “Denis apresentava para nós os dados dos nossos sites e depois a gente ia ao auditório, onde era a reunião grande em que o Google ensinava a respeito de engajamento, tags, como aumentar os views, assuntos que davam mais cliques.”

Em fevereiro de 2019, Denis Rodrigues foi promovido a gerente dos programas de marketing para a América Latina do Google.

Ao Intercept, um porta-voz da empresa não confirmou as reuniões e nem o envio de orientações. O Google disse apenas que “oferecer aos usuários informações confiáveis é parte da nossa missão” e que tem “políticas claras contra conteúdo enganoso em nossas plataformas de anúncios”. Isso inclui conteúdo perigoso, depreciativo ou enganoso. Pelo jeito, mentir afirmando que Dilma comandava um esquema de propina ou que Lula doou dinheiro ao Hamas é conteúdo que a empresa considera digno de credibilidade.

O Google afirma que não deu orientações relacionadas a palavras-chave, mas apenas à otimização do AdSense. O programa de anúncios, lançado em 2003, gerou mais de US$ 15 bilhões para a empresa só neste ano. Ele permite que donos de site cedam espaço em suas publicações para que o Google venda anúncios. Os lucros, gerados por cliques, são divididos entre o dono do site e o Google. Assim, gerar uma audiência e engajamento não é bom só para o blogueiro, mas também para a gigante da internet.

Os anúncios do AdSense são gerados por um sistema de leilão dinâmico, que leva em consideração o perfil do usuário e o conteúdo do site que ele está visitando. Graças a essa combinação, o Google consegue cobrar mais de empresas que queiram anunciar em páginas de temas mais valiosos ou para usuários que tenham um perfil que lhes pareça mais atraente.

É tudo automatizado e feito em um piscar de olhos: assim que o usuário acessa um site com AdSense, o sistema o identifica e dispara um leilão de milissegundos nos bastidores entre os anunciantes interessados em exibir anúncios naquele espaço ou àquele usuário. Quem fizer o maior lance entre os que se enquadram nos critérios do momento ganha o direito de se exibir ao usuário.

Assim, as palavras-chave usadas em um texto ou o perfil de um usuário têm o potencial de gerar mais ou menos lucro. Os blogueiros aprenderam isso com o Google. Com O Antagonista como exemplo de sucesso, o grupo entendeu como conseguir mais acessos e dinheiro com posts políticos. E, para turbinar os rendimentos, não importava se a informação publicada fosse mentirosa – bastava que chamasse a atenção.

“Teve notícias contra o PT que nunca foram comprovadas até hoje, como a de que o filho do Lula é dono da [gigante de telecomunicações] Oi. Você já leu coisa desse tipo na internet: ‘O Lula tem uma fazenda no Uruguai’, ‘a Dilma teve um relacionamento extraconjugal'”, lembra o ex-blogueiro. A única constante, fosse a notícia inventada ou não, era ser crítica ao governo petista. “Só tinha uma regra: notícias negativas, contra o PT, deveriam ser publicadas”, disse. “A regra era essa. O Google não ia pedir isso pra gente numa reunião, né? Eles podiam ser gravados. Mas a recomendação era que esse tema era o que mais remunerava.”

‘Era muita grana, não era pouca, né? E em dólar. Quanto pior o governo, maior [a cotação do dólar]. E mais dinheiro pra gente.’

A falta de compromisso com a realidade era combinada com a produção em série de posts. Segundo o ex-blogueiro, o Google recomendou que eles publicassem 20 posts por dia porque, dessa maneira, eles ganhariam mais relevância no buscador e, obviamente, seriam criados mais espaços para veicular os anúncios do AdSense.

Acatando a sugestão, os blogueiros se juntaram em uma rede em que as notícias de cada um eram replicadas em outros sites e espalhadas em suas respectivas páginas no Facebook. Isso ajudava a dar ares de verdade à publicação e fazia o blog subir posições na exibição na busca do Google – o mecanismo considera o número de links para determinada página um critério importante para posicionar um resultado no topo. Quanto mais links apontando para uma página, maior o peso dela em relação às demais.

Deu muito certo. Os acessos aos blogs chegavam à casa dos milhões. Nos momentos de pico, o ex-blogueiro ouvido pelo Intercept tinha 2,6 mil pessoas online em tempo real no seu site. Entre setembro e dezembro de 2016, ele manteve uma média de 7,5 milhões de visualizações por mês em seu blog.

Graças ao AdSense, tamanha audiência era revertida em lucro. Em maio de 2016, ele diz que recebeu do Google R$ 4,3 mil. Em julho, quase o triplo: R$ 13 mil. Um mês depois, R$ 25,7 mil. Era agosto de 2016, mês fundamental para o impeachment de Dilma Rousseff, quando o Senado aprovou o afastamento dela e Michel Temer assumiu a presidência da República.

Boleto do mês mais lucrativo para o ex-blogueiro antipetista: o que Dilma Rousseff sofreu o impeachment.

“Às vezes, chegava a ganhar R$ 4 mil com apenas uma notícia em um dia”, relembrou o ex-blogueiro. “Eu sabia o que estava fazendo, mas quando você está precisando de grana… E era muita grana, não era pouca, né? E em dólar. Quanto pior o governo, maior [a cotação do dólar]. E mais dinheiro pra gente.”

Embora o Google receba pagamentos de anunciantes em real no Brasil, a parte operacional do AdSense é concentrada nos Estados Unidos, de onde saem todos os pagamentos — por isso eles são contabilizados e pagos em dólar. No início do programa, o Google enviava cheques de papel pelos Correios aos parceiros brasileiros. Isso mudou em 2007, quando a empresa adotou a transferência eletrônica. Desde então, basta que o parceiro brasileiro informe dados bancários de uma instituição financeira daqui no sistema do Google para que os depósitos passem a cair mensalmente em sua conta, desde que a receita gerada no mês seja de no mínimo US$ 100.

A mudança de ares na política brasileira afetou os rendimentos do grupo. Notícias sobre o então novo presidente, Michel Temer, não rendiam tanto. “Era o Temer que estava no governo e as notícias, por exemplo, aqueles escândalos em que ele teve que comprar a Câmara duas vezes, não davam views, não dava dinheiro”, diz o blogueiro, em referência às duas votações em que deputados rejeitaram a abertura de processos de investigação contra o emedebista. O ex-blogueiro foi banido do AdSense por violação dos termos de uso – acusado de cometer plágio – no começo daquele ano. Ainda tentou criar outro blog, mas não funcionou. “Eu parei porque não era mais viável economicamente”, conta. Um processo movido por uma figura política petista contra ele também pesou na decisão.

O Intercept entrou em contato com O Antagonista e todos os ex-colegas do blogueiro. Apenas um, o Diário do Brasil, retornou. A resposta foi enviada por Patrícia Carvalho, que disse ter comprado o blog do antigo dono, Luciano Moura, em 2016, e não ter mais contato com ele. Falou, ainda, que não responderia às perguntas porque “não confiamos na linha editorial (anti-Brasil) do The IntercePT (sic)”. Ela disse que não tem contato com outros blogs, não participa de qualquer rede bolsonarista e que jamais recebeu um centavo de dinheiro público.

Mas continua ganhando dinheiro com anúncios. Dos seis blogs do grupo, dois não estão mais no ar. Quatro, inclusive o Diário do Brasil, ainda lucram com anúncios – três com AdSense e dois com o Taboola, uma ferramenta semelhante.

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Ilustração: Lufe/The Intercept Brasil

De onde vem o dinheiro

Só no segundo trimestre desse ano, a Alphabet, dona do Google, faturou US$ 38,9 bilhões. 83% desse valor, ou US$ 32,6 bilhões, veio da publicidade. A Google Network, denominação no balanço financeiro do Google que indica os locais de terceiros que veiculam seus anúncios, movimentou US$ 5,3 bilhões, um aumento de 8,4% em relação ao ano passado. Ninguém revela quanto dinheiro o YouTube movimentou, mas Ruth Porat, diretora financeira da Alphabet, disse que o site de vídeos foi a segunda maior fonte de renda da empresa.

Anunciar com os serviços do Google é eficiente porque a empresa combina a montanha de dados que ela tem sobre seus usuários – quem tem um Gmail, faz buscas no Google ou assiste vídeos no YouTube está entregando informações à empresa – para traçar seus perfis e assim oferecer aos anunciantes a possibilidade de anúncios bem direcionados. No AdSense, um anunciante pode, por exemplo, escolher que tipo de site veiculará sua propaganda com base nos temas, nas palavras-chave e no tipo de público que quer atingir – por idade, localização, interesses, gênero e outras informações.

O Google diz, explicitamente, que consegue alcançar pessoas por traços demográficos (“segmentos amplos da população que compartilham traços comuns, como estudantes universitários, proprietários de residências ou pais de primeira viagem”), afinidades (“usando uma imagem geral dos estilos de vida, paixões e hábitos delas”), intenção de compra (“que estão pesquisando e considerando ativamente a compra de um produto ou serviço como o seu”) e grandes eventos (“interaja com usuários do YouTube e do Gmail próximo a importantes acontecimentos, como mudança de endereço, formatura da faculdade ou casamento”).

‘Os anunciantes não só não estão cientes dos sites onde estão seus anúncios, como muitas vezes não sabem o que os sites estão publicando.’

Por alguma razão, o público interessado em conteúdo antipetista e impeachment ficou especialmente atraente para anunciantes em 2016 – por isso, rendia muito dinheiro a quem conseguisse impactá-lo. O ex-blogueiro que conversou com o Intercept disse que, em seu blog, eram frequentes anúncios do Itaú, Bradesco, Magazine Luiza, Santander e Localiza, entre outros.

Hoje, a rede de blogueiros que ainda usa a ferramenta exibe anúncios de empresas como C&A, SafraPay, Uber, Quinto Andar, Reserva, Burger King, Nissan e Magazine Luiza, entre outras. Nós perguntamos a cada uma dessas empresas se elas endossam a linha editorial dos sites em que anunciam, e quase todas deram a mesma resposta: não.

A ignorância é um fenômeno global, como atesta Matt Rivitz, criador da iniciativa Sleeping Giants, que alerta empresas sobre anúncios veiculados em sites problemáticos nos Estados Unidos, como o Breitbart News: “Os anunciantes não só não estão cientes dos sites onde estão [seus anúncios], como muitas vezes não sabem o que os sites estão publicando. Sem saberem, eles apoiam financeiramente sites que empurram de tudo aos leitores, de teorias da conspiração a discurso de ódio”.

Natura, Magazine Luiza, Quinto Andar e demais empresas disseram não endossar o discurso de qualquer canal senão o delas mesmas. As marcas também dizem não apoiar conteúdos que sejam contrários à lei e à ética, divulguem conteúdo desrespeitoso ou promovam desinformação. Só o Magazine Luiza, que terceiriza à Criteo a curadoria dos sites que podem ou não exibir seu conteúdo, disse não ver problema em veicular propagandas no Notícias Brasil Online.

A Nivea disse que “nenhum conteúdo da marca deve ser veiculado dentro de canais que falem sobre temas pré-determinados, como é o caso de política”. Segundo a assessoria, o que houve foi uma “falha tecnológica de distribuição do conteúdo” e eles afirmam já estar tomando as providências necessárias para resolver. C&A, Uber e Burger King não responderam ao nosso contato.

O Google disse ao Intercept que o anunciante não escolhe o site em que anunciará, mas pode vetar determinados conteúdos. Nenhuma das empresas ouvidas pela reportagem sabia que seus anúncios estavam sendo usados para financiar desinformação.

‘Não é um problema só do Google, mas de toda a indústria.’

“O ecossistema da desinformação é movido a ganhos financeiros”, disse ao Intercept Craig Fagan, diretor da Global Disinformation Index, uma consultoria que publicou há dois meses um estudo para quantificar quanto dinheiro da indústria de propaganda online vai para sites que espalham desinformação. O resultado é estarrecedor: US$ 235 milhões em um ano – isso só nos 20 mil sites analisados por ele, o que não inclui o Brasil. A estimativa é conservadora, eles garantem.

Segundo Fagan, a produção desse tipo de conteúdo falso é feita em torno de assuntos que engajam as pessoas – eleições, catástrofes, questões de violência – justamente para lucrar com anúncios.

Para o estudo, o GDI coletou dados de 20 mil sites considerados por eles como propagadores de notícias falsas e desinformação, como o Rt.com, antigo Russia Today, classificado como questionável pelo Media Bias Fact Check.

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Gráfico do GDI mostra qual é a parcela de cada empresa de anúncios que ajuda a financiar a desinformação.

Gráfico: Global Disinformation Index

O GDI oferece uma espécie de consultoria para alertar as empresas e mostrar onde investir melhor o dinheiro com propaganda online. “A melhor maneira de cortar isso é se marcas e outros comprarem espaço de propaganda direto no site. Elas precisam saber com quem estão falando e os riscos que correm e tomar a decisão de não ter anúncios nesse site.”

Segundo o estudo, o Google é responsável por 70% do valor gasto com desinformação. Fagan, no entanto, não culpa só a gigante. “Não é um problema só do Google, mas de toda a indústria”, diz. Ele acredita que, se o Google parar de fornecer esse tipo de serviço, outras empresas ocuparão esse espaço.

Na avaliação de Fagan, o Google é um problema justamente por seu ecossistema que não apenas oferece anúncios, mas ajuda a alavancar a audiência e aumentar a reputação de quem espalha mentiras. E isso acontece não só nos sites, mas também no YouTube, onde os blogueiros conseguiram alavancar mais audiência em torno de seu conteúdo de extrema-direita.

Rivitz, do Sleeping Giants, também não acredita que mudanças significativas partirão das plataformas. “Há muita gente ganhando muito dinheiro para que algo real aconteça. Enquanto não houver transparência, continuará a ser um problema.”

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Sunday, 17 November 2019

There Will Be No Victory in Dishonor

None of the services seems happy with President Donald Trump’s decision to pardon two service members accused of war crimes, and reverse the demotion of a third. The Navy’s reply, however, sets some kind of record of disdain. The Twitter account of the U.S. Navy’s Chief of Information Office wrote on November 15: “As the Commander in Chief, the President has the authority to restore Special Warfare Operator First Class Gallagher to the pay grade of E-7. We acknowledge his order and are implementing it.”

Those icy words breathe the mood of the admonition from Band of Brothers: “We salute the rank, not the man.”

To understand why the Navy—and the other services, too—reacted so negatively to the pardons, here’s a story I heard on a visit to Germany a couple of months ago. I had the chance to talk with a senior U.S. officer in that country.

The officer had been posted all over the world during his long and distinguished career, but his very first overseas assignment took him to Stuttgart in 1983. The move into the apartment left behind a mess in the street: packing tape, that kind of thing. He knew how conscientious the Germans are about litter. But he had little children then and he was exhausted after the move, so he fell asleep intending to wake up early the next day to finish the job.

He did rise early, only to find that somebody had done the job for him. He interpreted this as passive-aggressive criticism by a neighbor, so he knocked on the next door to apologize. The door was answered by an older man who spoke clear, although strongly accented, English. Yes, the neighbor had cleaned up the mess. No, no apology was necessary. He had noticed that the officer had a young family, and he understood how difficult it was to move with children. The neighbor had wanted to extend a welcome, because he was a great admirer of the U.S. military.

“Where did you learn such good English?” asked the officer of his new friend.

“In Louisiana.”

“Do you have family there? A job?”

“No, I was a prisoner of war. I was captured in Tunisia in 1943.”

“I’m sorry you met America that way.”

“Don’t be. I ate better in America than I ever ate in the Afrika Korps. And I’m alive, which I would not be if I had not been captured. So when I see American soldiers, I always try to say, ‘Thank you.’”

The American officer who told me the story would later lead part of the cleanup effort at Abu Ghraib, after the exposure of maltreatment of prisoners there. He told his troops in Iraq: The way the U.S. Army had treated German POWs in 1943 paid security dividends for 40 years afterward. The way the Army treats its prisoners today will matter just as much 40 years from now.

The armed forces of the United States do their utmost to fight lawfully and humanely not only because it is the right thing to do. They do their utmost because it is also the smart thing to do. Every war ends. The memories from that war persist for decades.

War is horrible enough when fought honorably. To join dishonor to horror is no victory for any American cause.